Elementos do sertão transformados em ambiente ‘instagramávelʼ
Em uma comum paisagem do interior nordestino, a rede estendida serve de aconchego para os visitantes, descanso para os moradores, curiosidade para os estrangeiros. São significados distintos a cada olhar, de acordo com as mais variadas experiências vividas sobre essa protagonista. Essa foi a inspiração da arquiteta para o cenário Um olhar sobre o sertão, onde as vivências da própria criadora se mesclam à criatividade para representar, a partir de uma nova perspectiva, os cenários, as tradições e a cultura da região.
Não existe uma só casa no sertão sem uma rede de dormir. Deitada ao seu balanço, a sombra de uma árvore, a vida não tem pressa e nosso corpo é convidado a balançar. Dentro dessa perspectiva, temos a rede de descanso como protagonista no cenário para selfie no sertão, sob o teto verde, que simboliza a sombra de uma árvore e a cor que modifica o horizonte nos felizes períodos de chuva. Nesse céu, a lembrança do verde sertanejo é evidenciada por plantas próprias para ambientes internos, suspensas em cachepôs metálicos pintados em um degradê de cores quentes, como expressão do calor nordestino. Outros elementos típicos, como cactos e cordéis, estão suspensos no teto rico em significados inclusive para a arquiteta, neta do poeta sertanejo José Saldanha, cujos cordéis levam cores e rimas ao cenário.
As paredes, por sua vez, atraem os visitantes para a selfie em uma das 25 telas feitas de rendas labirinto, bilro e renascença, que foram entrelaçadas pela própria arquiteta às molduras em madeira, com lembrança à técnica de produção da renda labirinto; ou nos cartazes que chamam atenção ao expor 22 expressões típicas do povo nordestino: “painho”, “mainha”, “mulher arretada”, “homi, deixe de arenga”, “se aperrêie não”, “tô só o coió”, entre outros dizeres compostos por imagens e letras estilo xilogravura e o colorido das capas de cordel, que são universalizados por traduções em inglês e francês. Tudo isso está exposto em um fundo laranja, referência à terra batida do sertão e parede em tijolo maciço aparente, do mesmo jeitinho das casas do sertão.
“Ao receber o desafio de criar um ambiente instagramável sobre o sertão, pensei em um cenário que representasse a gentileza do sertanejo, nosso jeito único de falar e acolher e a arte delicada das rendeiras”, afirma Raiane Calistrato, ao mencionar inspiração no renomado escritor Luís da Câmara Cascudo no livro Rede de dormir. De acordo com o estudioso, “a rede toma o nosso feitio, contamina-se com os nossos hábitos, repete, dócil e macia, a forma do nosso corpo”.